quinta-feira, 30 de agosto de 2012
Tauromaquia
E de tempos a tempos lá volta o tema a debate
público, mas afinal as touradas devem ser proibidas e ponto final ou devem ser
realizadas porque as tradições são para manter em defesa da identidade duma
terra? Na verdade é só mais uma das discussões estúpidas que nos ocupam o tempo
e nunca levam a lado nenhum pois tanto os que se insurgem contra como os que a
defendem não vão abdicar dos argumentos em que se escudam. Sem querer fazer
juízos de valor acerca da inteligência de ninguém, mas fazendo-o, há um
argumento que me deixa algo perplexo quando invocado e nunca percebo onde
querem chegar quando dele fazem uso: -Pessoas que comem carne não se deviam
insurgir contra as touradas, dado que toda a carne que comem advém de animais
mortos para o efeito. Fodasse, então levar um animal a um matadouro e
causar-lhe morte imediata, é o mesmo que criar um animal estimulando ao longo
do seu crescimento a sua agressividade (sejam quais forem os métodos
empregues), para depois o fazer sofrer durante horas sendo espetado e
massacrado até á exaustão antes de o matar? O que os pomposos açougueiros
aclamam como uma morte honrosa a mim parece-me somente um fim humilhante para
um animal admirável. Estamos no topo da cadeia alimentar e a maioria dos
animais servem para serem mortos e consumidos, não há como mascarar essa
realidade, mas fazê-lo numa arena para gáudio de uns quantos parece-me uma
exibição estúpida do poder que detemos sobre o animal. No dito “espectáculo” em
debate, há três partes que merecem apreciações distintas: A acção dos forcados,
que demonstram que os têm no sítio ao encararem de frente quase meia tonelada
de animal que investe na sua direcção, em vez do barrete esquisito deviam usar
capacete e uma boa protecção abdominal, mas por esses há que ter respeito.
Depois temos os gajos que andam a saltar dum lado para o outro, envergando
orgulhosos a sua Lycra cor-de-rosa adornada com lantejoulas enquanto se
esquivam dum touro enraivecido pelo pano vermelho que lhe brandem na frente.
Exige perícia e muito treino concordo, mas tem tanto de roto como de
desnecessário na minha óptica e que só vale a pena quando o touro lhes acerta o
passo. Os tipos montados a cavalo que sujeitam um animal magnífico a enfrentar
outro e que se fossem menos balofos não precisavam de espicaçar tanto o animal
para ele correr, é tão desprezível como qualquer menção aos mesmos. Claro que
os momentos á Bo Derek que as cavaleiras proporcionam até podiam suscitar algum interesse, mas
nem isso, continua a ser das mais ignóbeis e abusivas manifestações de
supremacia dum animal sobre outro em que a posse de racionalidade por parte
dalgum deles suscita muitas dúvidas. No fim o momento “What tha Fuck!”, como é que o ovacionado da noite é o gajo alapado no cavalo e o
forcado chefe só leva uma florzita murcha e uma menção honrosa, enquanto os
outros forcados nem a isso têm direito?
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