quarta-feira, 25 de julho de 2012

Desculpar o indesculpável


Mais que qualquer relação amorosa, qualquer religião que nos guie, a cor clubista é imutável, uma paixão eterna que resiste a derrotas e exulta com vitórias, que nos leva dum estado de tristeza ou até desespero ao mais elevado limiar entre a felicidade e a loucura num espaço de tempo demasiado curto para ser considerado saudável. Esta devoção extrema ao clube do coração, vista pelos menos entusiastas como doença, leva os que dela sofrem a desculpar o indesculpável para defenderem o seu clube contra tudo e todos, recorrendo aos mais questionáveis argumentos para tal, desafiando na maioria das vezes a lógica, mas empregando toda a veemência de que dispõem para que se assemelhem á realidade. Tal patologia que só é compreendida e aceite por quem dela sofre, não pode ser tomada de assalto pela falta de racionalidade ou ser confundida com estupidez. É com base nessa premissa que se torna incompreensível, o facto de o nosso clube nos dever milhões enquanto contribuintes e nada disso nos causar revolta. Importantes são os títulos que eles ganham, o prestigio que adquirem e os dividendos que conseguem, dos quais nada recebemos pois são divididos pelos dirigentes que sabemos serem corruptos e pelos atletas por nós endeusados. Mas isso não importa, desde que o “nosso presidente” leve o clube a vencer para podermos festejar o facto euforicamente, e despreocupados do roubo a que vamos sendo sujeitos, os seus actos ilícitos e os seus crimes alarves são vistos por nós como vitórias ou motivo de orgulho. Não podemos usar dois pesos e duas medidas ao sabor das nossas preferências, censurar as dívidas públicas ou privadas porque nos lesam e camuflar as ilicitudes clubistas que nos afectam da mesma forma, só porque nos estão mais próximas. Esse comportamento retira-nos toda a legitimidade de protesto.

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