Mais que qualquer relação amorosa,
qualquer religião que nos guie, a cor clubista é imutável, uma paixão eterna
que resiste a derrotas e exulta com vitórias, que nos leva dum estado de
tristeza ou até desespero ao mais elevado limiar entre a felicidade e a loucura
num espaço de tempo demasiado curto para ser considerado saudável. Esta devoção
extrema ao clube do coração, vista pelos menos entusiastas como doença, leva os
que dela sofrem a desculpar o indesculpável para defenderem o seu clube contra
tudo e todos, recorrendo aos mais questionáveis argumentos para tal, desafiando
na maioria das vezes a lógica, mas empregando toda a veemência de que dispõem
para que se assemelhem á realidade. Tal patologia que só é compreendida e
aceite por quem dela sofre, não pode ser tomada de assalto pela falta de
racionalidade ou ser confundida com estupidez. É com base nessa premissa que se
torna incompreensível, o facto de o nosso clube nos dever milhões enquanto
contribuintes e nada disso nos causar revolta. Importantes são os títulos que
eles ganham, o prestigio que adquirem e os dividendos que conseguem, dos quais
nada recebemos pois são divididos pelos dirigentes que sabemos serem corruptos
e pelos atletas por nós endeusados. Mas isso não importa, desde que o “nosso
presidente” leve o clube a vencer para podermos festejar o facto euforicamente,
e despreocupados do roubo a que vamos sendo sujeitos, os seus actos ilícitos e
os seus crimes alarves são vistos por nós como vitórias ou motivo de orgulho.
Não podemos usar dois pesos e duas medidas ao sabor das nossas preferências,
censurar as dívidas públicas ou privadas porque nos lesam e camuflar as
ilicitudes clubistas que nos afectam da mesma forma, só porque nos estão mais
próximas. Esse comportamento retira-nos toda a legitimidade de protesto.
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